quarta-feira, abril 26, 2006

palavas andantes

Tem um livro bonito de contos uruguaios do qual tenho extraído rápidas leituras, sempre que posso. Chama-se “As palavras andantes”, de Eduardo Galeano, e é todo ilustrado com xilogravuras de J. Borges, uma maravilha. O problema é que ele é ensolarado demais, folclórico, seco, mitológico e fantástico demais para este tempo - em Recife cai uma chuva grossa e boa de quietude.
Daí lembrei de um trechinho em que o autor fala dos meses do ano e descreve cada um, em uma “janela sobre o tempo”. Ele fala, por exemplo: “Em abril, tempo de silêncio, crescem os grãos do milho”.
Eu gosto dessas representações dos meses ligadas ao campo, à lavoura, ao semear – com os ciclos naturais regidos por uma lógica e uma sazonalidade que não existem mais por estas terras. Essa austeridade e coesão telúricas estão muito longe daqui, de fato, e a chuva forte de Pernambuco parece que só semeia mesmo cinza, vontade e silêncio e, por ora, o que se faz é refletir, ver - no mais urbano sentido de contemplação -, descansar, ler, tecer pensamentos e sentir consigo, calado.
Mas vejamos se daí germina alguma mudança. Segundo Galeano, “maio é tempo de colheita”. Eu, sinceramente, gostaria de não mais ler, em despretensiosas palavras alheias e em pequenos detalhes, nenhuma promessa. Mas... vejamos. Sempre se pode correr o risco e o êxtase de esperar...

sábado, abril 08, 2006

da história e algumas canções

Eu tinha escrito hoje, logo cedo, um texto gigantesco, cheio de considerações, entendimentos e espantos a respeito da idéia de estudar a forma como uma determinada comunidade de pessoas, por meio das suas formas de comunicação e dos seus discursos, representa sua idéia de historicidade – a idéia de como elas se vêem na construção de sua história individual e também na construção da história coletiva da qual todos fazemos parte. E nesse texto eu falava também de como isso me levou a pensar, antes de tudo, sobre o meu próprio sentido de historicidade – de como eu próprio me vejo nessa loucura toda chamada tempo, que envolve um futuro que é feito, construído, e pelo qual somos todos responsáveis. Algo como se o distanciamento besta de querer estudar os outros me levasse a finalmente querer perguntar sobre mim mesmo, e me conhecer um pouco melhor.
Foi muita coisa, o que eu escrevi. Mas... Bem, é de tarde, agora, e eu depois de quase uma semana me dei o direito de fumar um cigarro e olhar a janela ouvindo Belchior, sentindo o tempo carregado de promessa de chuva, que eu tanto gosto, pensando em tudo e em nada e no que vem em seguida – no que preciso fazer do minuto seguinte. E me ocorreu então que esse é o meu sentido de historicidade.

E sim, os sinais ainda parecem todos fechados pra nós, que somos jovens.