segunda-feira, junho 27, 2005

Os tênues laços

O que significa “passado” e “rebelar-se”. Mais: o que significa aceitar. Aula prática: o que chamamos de desencontro. Pífano e pólvora. Trégua: porque a guerra mais exaustiva é a que travamos contra nós mesmos. Presença ausente e duradoura. Vanilla sky.

Pavão na neve, mar de celofane, filosofia virtual e reincidência de antigas preocupações - porque somos todos imperfeitos.


O que te faz feliz?

quinta-feira, junho 16, 2005

E agora que, para tudo isso que agora estou sentindo, não há um filme?

quarta-feira, junho 15, 2005

Você já foi peão?




Um dia a areia branca
Seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorar

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante

domingo, junho 12, 2005

Eu não consigo me abalar com os contratempos causados pelos períodos de “inverno” na capital pernambucana. Os meses de chuva em Recife, pelo contrário, são para mim dos mais interessantes – à parte, claro, os intoleráveis problemas habitacionais e sanitários que afligem boa parte da população, arranca-lhes seu patrimônio construído de papelão, zinco e palafitas e nos escancara a desolação de uma metrópole desengonçada que não aprendeu a ser grande e que se multiplicou sobre uma frágil estrutura humana de casas, ruas, coletivos, esgotos e canais. As mazelas sociais pernambucanas são como um tapa na cara, quando chove, e é com um “misto de horror e vergonha” que até o mais elitizado cidadão recifense atola-se na lama, na água suja, exposto às doenças de pobre: verme, micoses, leptospirose.
De minha parte, acho até engraçado essa situação: pessoas ricas, respeitáveis cidadãos de classe média ou simplesmente os “humildes limpinhos” arregaçando calças, segurando seus sapatos às vezes caros em uma mão, o supervalorizado guarda-chuva em outra, cuidando (em vão) para não se molhar.
Tenho, é verdade, enfrentado alguns contratempos: alguém conhece a calamidade publica que se configura na Imbiribeira – Mascarenhas de Moraes repleta de água, de ponta a ponta – quando chove? Forma-se até uma certa correnteza, os carros e ônibus criando ondas, a ressaca abatendo-se sobre a fachada das lojas e pequenas cachoeiras surgindo da agitação dos pneus daqueles que, apesar das inundações, das goteiras e de uma cidade que não se agüenta nesses dias exageradamente carregados d’água, precisam, enfim, cumprir seus compromissos, impreterivelmente. No fundo todos tem certeza da insensatez, da irracionalidade que é dar prosseguimento às rotinas urbanas, mas ninguém fala, porque há um pacto silencioso determinando que a cidade não pode parar, e então todos fingem que em Recife não se instaurou o absurdo – essa palavra tão banalizada mas aqui utilizada no seu sentido essencial. Porque é isto mesmo: nestes dias, Recife esta ilógica, desafiando a razão, quase uma piada, uma gozação – parece mesmo tiração de onda de alguém, tanta água assim e a gente precisando agir normalmente, como se não fosse nada de mais.
Como disse, tenho enfrentado, sim, situações adversas: depois de, por três dias, atolar o pé na lama até a canela, na minha impraticável vestimenta de trabalho, e passar o dia inteiro no ar-condicionado, todo molhado e com os sapatos encharcados emitindo sons indescritíveis, estava certo que adoeceria. Mas eu, ranzinza como sou, parece que gosto mesmo de chuva e ao contrario da maioria até me divirto, porque não há quem tenha conseguido tirar meu bom humor nessas horas em que vejo o céu desabando, corro pisando em poças atrás de ônibus, vejo as pessoas inconsoláveis, molhadas até a alma e tendo que trabalhar e manter a pose, etc etc. A lista de situações tragicômicas continua indefinidamente, e eu rio feito doido, alegre feito menino com essa chuva toda caindo.

sábado, junho 11, 2005

"I don't ever wanna wake up
feeling like a tourist

In this place where our bottles
Have been emptied by the shore

Conductor tell the driver stop the bus
I'm getting off, I've had enough

In this place where our bottles
Have been emptied by the shore"

domingo, junho 05, 2005

Deixa um pouco de lado tuas perfeições e fita, ao menos de longe, mesmo que indiferente, a minha sujeira. Não que eu a queira expor; não que eu a tolere. Mas fita-a, porque é uma das minhas faces mais honestas, sujas, francas. Compreende a minha decadência como um instante de fraqueza, aquela hora em que a gente esquece de fingir, perde o medo do feio, esquece o segredo e, na ânsia, o revela. Mas lembra-te, ainda, que é o que de mim pode haver de mais honesto. Dá-me este desconto, quando minhas palavras tornarem-se agressivas e eu rasgar minha postura num ímpeto, e assim minhas ações poderão ser julgadas à luz dessa certeza de que, acima de tudo, há alguém com uma vontade incontrolável de acertar, mesmo que por caminhos tortos, mesmo que perdendo o rumo ou a moderação e a sensatez nos seus atos.
Por fim, imagina, ao menos vagamente, o quão difícil é recobrar a racionalidade e perceber a exposição, o desgaste e, pior, o desproposito de tudo. Lembra disso, apenas, para entender também porque eu insisto em tentar fazer diferente, em contornar, em começar um amanhã mais limpo, puro, diferente - idas e vindas no esforço de ser pleno.

quarta-feira, junho 01, 2005

Post motivado por um não-acontecimento recente, pelas manhãs de segunda e pela musica de Buena Vista Social Club.


De como funciona a tristeza em dias de produtividade e chuva

Por sob tudo percorre um silencio, um incomodo lamento oco de pensamentos decantados no sono, renovados e fortalecidos ao despertar. O impulso que ergue é puro automatismo de compromisso e obrigação; na musica que toca para se esquecer e consolar, cada nota é a lembrança dolorida da ausência, e quase não se agüenta essa saudade inusitada que - tão múltipla! – é de tantos.
“A própria dor é uma felicidade”, houve quem algum dia dissesse... Essa falta aguda, então, talvez seja também lembrança boa, feliz sentimento que se tem pelo que se gosta. E, no entanto, dói. Porque se espera próximo o que às vezes é distante, e a saudade que sentimos muitas vezes é a frustração do inconcluso, verdadeiro apenas na ânsia e na expectativa nunca concretizada.
Na minha manhã ficou a tua mudez e tua imponência, tua independência e desapego, tua distante indiferença. Em mim, a vontade de calar-me, suavemente não ser nada, na hipótese inútil de não mover-me mais, ter todo o tempo do mundo para remoer nossa impossibilidade e, apenas na minha hora, na que eu decidir que é a certa, finalmente sarar, aberto as coisas do dia já nascido, alto, que reivindica, insistente, a minha tão rara objetividade.
Mas amanhece e a vida não espera. Nem pelos lamentos, pelas lembranças, pelas expectativas frustradas, pelo medo, pela melancólica certeza do que é inevitável... nem ao menos pelo tempo de me recompor. É segunda feira e a tristeza tem hora, uma outra que não essa: o tempo, hoje, é do trivial, do prático. É preciso sair, trabalhar, seguir com os horários, os compromissos; mesmo sem planos, mesmo inapto, mesmo naquela vontade inconsolável de não acordar, ficar quieto, ouvir mais uma musica, pensar mais um pouco, negar tudo um pouco, infantil, intransigente. Mas é segunda feira, e então mesmo que chova, mesmo com a incongruência de uma cidade que não abarca tudo que desaba nesta manhã, é uma vez mais a mesma roupa passada, o mesmo ônibus, as mesmas horas, a mesma paciência fingida. Há, no entanto, por sob tudo, o subtexto da certeza que corre fina pelos meus olhos e me aponta o que está por vir. Portanto, embora eu saiba que hoje nada se espera, haverá ainda a noite, as minhas verdadeiras horas, essencialmente inúteis, e é na necessária confusão destas que verdadeiramente me abrigo, penso um pouco e, aos poucos, cansado, esqueço o dia.