terça-feira, abril 05, 2005

Uma leve quebra no ritmo faz-se sempre necessário. Revendo esta semana o filme Waking life, deparei-me com uma idéia interessante. Em certo momento um dos personagens menciona o fato de que talvez não seja possível viver a vida e compreende-la, ao mesmo tempo. Certamente um pensamento inusitado, mas que faz sentido: existem momentos intensos, em que entramos diretamente em contato com pessoas, acontecimentos, experiências, e outros em que damos uma pausa para organizar um pouco estas informações. Mais do que uma forma de entendimento, no entanto, tais instantes estão, eles próprios também, impregnados de vivacidade: um processo ativo em que reconstruímos a vida com nossa marca pessoal, revivemos, recriamos nossa realidade. No fim, terminamos por alcançar uma aproximação com esta nossa realidade subjetiva, individual, em um exercício de reencontro e auto-afirmação.
Talvez por essa necessidade de reconstrução introspectiva, tenho me aproximado também, com crescente interesse, da exploração das experiências oníricas pessoais, cada vez mais fascinado pelos limites do sonho e pela compreensão da fantasia como um estado de consciência tão relevante e, diriam os mais ousados, real quanto a nossa “vida desperta”.
Não sem o risco de soar como uma piadinha a respeito do ato de explorar estados alterados de consciência, penso que todos deveriam voltar-se um pouco mais para o que sua mente comunica através de sonhos, fantasias, ou, como afirmou Breton, pelo “pensamento ditado na ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética e moral” (em sua definição de Surrealismo).
Entregando-se às descobertas que nosso subconsciente nos reserva, desvendamos o implícito dos fatos, a “terceira cor do tabuleiro de damas”.Ou não: os dias têm-se mostrado repletos de subtextos, com fatos, momentos e sensações repletos de subjetividade, incerteza, nuances.

Para ouvir: Cocoon – Bjork


P.S. A propósito: comprei o dvd do filme do David Lynch, “Mulholland Drive”. Espero em breve revê-lo e voltar, aqui, a essa história toda de universos oníricos, fantasias, surrealidade.

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