sexta-feira, abril 22, 2005

A ninguém caberia a culpa. Unicamente a si mesmo. Oferta enganosa, essa possibilidade de trocar a reclusão pela descontraída aproximação proporcionada pela recusa de qualquer seriedade. Fazer da vida uma brincadeira, de si uma caricatura e dos fatos um impulso em que tudo vale, em que a entrega pouco criteriosa e a imediata satisfação vêm à medida que se subverte a imagem pessoal e o pudor. Humor auto-depreciativo, menosprezo pelo marketing pessoal, pelas personas e imagens sociais cautelosamente zeladas... Isto tudo sendo, também, uma simples persona, como as máscaras teatrais: uma caricatura, simplificada e inegavelmente atraente - inegável atração do divertido, do estereótipo, perfeitamente acomodado na embalagem do divertimento e na promessa de nunca se ofender, mas rir e fazer rir, em seus próprios defeitos e inadequações.
Mas o estereótipo anseia por mais, em uma necessidade por algo incompreensível, indefinível. É nesse ponto, talvez, quando se lembra o quão difícil é a segurança e o conforto do afeto verdadeiro, e quando se questiona o que sustenta o vínculo quando some qualquer graça, quando o mais inibido anseio pelo que é consistente e espontâneo, completo e essencial, emerge. Ou no extremo, quando algo que existe de feio surge - não tudo aquilo que entrete, e sim o feio que incomoda, o feio estética, emocional e socialmente agressivo, incômodo.
Não resta consolo, tampouco identificação. O conforto do vínculo some, as pessoas apenas ao redor. Fica-se assim, nessa breve volta à realidade, ao menos até que haja estômago pra continuar. Estômago, tolerância e humor.
Enquanto isso... lost in solitude.

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