terça-feira, novembro 09, 2004

Pensamentos clichês seriam, de fato, clichês, se não fossem estes não apenas comuns mas também relevantes a tantas pessoas, em tantas ocasiões? Talvez por isso mesmo sejam clichês e transformem-se nesse tipo de lugar-comum: todos os têm em alguns momentos da vida, guardam-nos para si e os conhecem bem, tamanha a clareza com que se mostram, verdadeiramente dignos de atenção.
É com tal condescendência para com esta qualidade de reflexão já tão exaustivamente expressa e remoída que menciono, ao menos de modo breve, então, a surpresa que me assola ao revisitar pequenas lembranças de circunstâncias passadas e me deparar com a obviedade, ou melhor, com a primitiva e simplória clareza dos fatos. O distanciamento que permite enxergar de forma tão estupidamente explícita a configuração e o desenrolar de determinadas situações põe abaixo qualquer impressão equivocada de uma suposta “complexidade”.
Refiro-me aqui ao mais clichê de todos os assuntos: as fotografias antigas. Para simplificar, então, digo simplesmente: convém preservar as velhas fotos, pois elas guardam em si a verdade, e qualquer apreciação distanciada e desprovida da influência da memória recente pode mostrar claras e relevantes descobertas.
Faz-se oportuno, assim, questionar: serão tão claras também as circunstâncias presentes, sendo estas tornadas obscuras apenas por uma imperdoável miopia própria do tempo presente, do calor das emoções?
Observar, de vez em quando, os fatos presentes como fotografias antigas: eis um saudável exercício de distanciamento que pode, em último caso, ajudar no encontro da real dimensão do que nos aflige.

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