domingo, novembro 21, 2004

Há algumas semanas atrás escrevi um post aqui falando sobre a saída de uma pessoa do meu atual-quase-ex-estágio no Tribunal de Justiça, estando eu motivado pelo fato de que, naquele período, coincidentemente saíram vários estagiários da nossa coordenadoria em um curto intervalo de tempo. Na ocasião, me ocorreu o pensamento de como todo aquele conjunto de ações já conhecidas e comuns a quem vai embora eram tão triviais, mas, ao mesmo tempo, poderiam significar algo para quem partia, uma vez que a minha própria reflexão a respeito daquelas saídas já eram carregadas de significado, mesmo a mim, que nem sequer estava vivendo aquela situação diretamente. Despedidas, abraços, desejos de sucesso e felicidade, promessas de contato e visitas algum dia, tudo poderia ser tão mecânico ou tão tocante, dependendo do grau de sensibilidade ou cinismo de quem aqueles instantes presenciava.
Eis que chega minha vez de dar adeus, e não poderia ser diferente: foi um adeus do meu jeito – apático, escondido, omitido – ou seja, o não-adeus. Eu não tive tempo, eu cheguei correndo, eu não sabia o que fazer: desvendar um jeito de fazer backup dos meus arquivos salvos no disco rígido ou me pôr a par das burocracias para rescisão do contrato? Informar a saída ao coordenador ou atualizar minha freqüência? O fato é que tanto tempo houvesse quanto fosse necessário, eu não saberia como fazer com que todos soubessem que eu ia sair. Eu não me imagino passando de porta em porta falando “ei, estou saindo, foi um prazer trabalhar com você...” Nessas horas que percebo o quanto meu comportamento anti-social pode ser incômodo: quando se entra e sai de uma sala de segunda a segunda, com uma feição simpática mas incapaz de dizer muitas palavras, e quando se gasta o tempo entrincheirado na mesa do computador pensando na vida ao invés de aproveitar os momentos de ócio (e esses existiram muito) para interagir e trocar conversas cordiais, passar de sala em sala e comunicar a saída só poderia soar estranho. Não se pode dizer adeus a uma intimidade que nunca existiu, criada de forma súbita pela pura necessidade de se despedir.
Ora, mas não se faz isso, não se despedir das pessoas! Então me alivia que ainda precise voltar ao estágio para resolver burocracias, pois o objetivo singular e o ineditismo da ocasião me ajudam a quebrar uma rotina de silêncio que eu mesmo, talvez por uma certa falta de jeito, criei.
Mas, enfim, voltando ainda àquela idéia de que hoje o compasso dos dias me leva à mesma situação na qual presenciei outros, meses antes, chego ao ponto que me intriga. Não percebi nenhuma grande comoção em quem se ausentava deste ambiente quando tal momento tornou-se premente, e no entanto confesso uma certa... inquietação (não encontrei outro nome). Deste modo, seria eu insensível em não perceber a comoção dos demais, seriam eles melhores do que eu em disfarçar esta “inquietação” ou sou mesmo mais emotivo e talvez mais fraco que os demais? Porque mal pude conter o nó na garganta, por exemplo, ao comunicar minha saída a um parceiro de trabalho que aprendi a admirar como profissional e, acima de tudo, como ser humano, embora mal tenhamos trocado experiências ao longo deste “um ano e oito meses” e as conversas tenham sido esparsas. Talvez seja mais “comovível” do que a maioria, e não constato isso sem um certo incômodo. Talvez ainda precise aprender a viver para aprender que uma pessoa não se deixa tocar assim tão facilmente por acontecimentos cotidianos, “da vida”, ou pelo simples fato de que em alguns momentos esta vida anda um pouco, digamos, mais depressa, por caminhos que ainda não desvendamos.
Neste lugar talvez tenha aprendido lições curiosas, que com o tempo compreenderei: é possível admirar alguém sem conhece-lo plenamente ou criar vínculos de amizade; é possível sentir-se bem sem se sentir produtivo de fato; é possível sentir-se bem visto mesmo quando se acha sub-aproveitado; é possível ter saudade e nostalgia mesmo quando se busca o novo.

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